Uma das principais propriedades da clara é a
capacidade de formação de espuma, que consiste na agregação de ar em uma rede
composta por proteínas que se ligam quando submetidas a um estresse físico – no
caso, o batimento das claras. Durante o batimento ocorre desnaturação da
albumina, com desdobramento em sua estrutura.
Esse batimento produz inicialmente grandes
bolhas de ar, que têm seu tamanho reduzido à medida que se continua o
batimento. Assim, a redução do tamanho e aumento do número das bolhas de ar resulta
em um maior volume devido a incorporação de ar.
O volume resultante é maior quando o ovo é
fresco e está na temperatura ambiente.
Além disso, a adição de diferentes substâncias à
clara produzem diversos efeitos, conforme demonstra os experimentos realizados
no Laboratório de Técnica Dietética da FSP/USP.
Foram realizados oito experimentos, cada um com
uma clara, onde adicionou-se diferentes substâncias antes e durante o seu
batimento.
Durante a formação da espuma as claras passam
por 4 estágios distintos, sendo o primeiro caracterizado por um líquido
transparente com bolhas de ar (espumante). O 2º estágio apresenta picos
arredondados, bolhas menores, mais esbranquiçadas, aparência brilhante e úmida
(espuma macia). No 3º estágio aparecem picos firmes, bolhas bem menores, muito
brancas e que não escorrem da tigela (espuma dura). O 4º estágio caracteriza-se
por falta de brilho, espuma muito branca, rígida, quase quebradiça (espuma
seca).
As claras foram batidas em batedeira comum, de
uso doméstico, até atingirem a característica de espuma dura (3º estágio).
A Tabela
1 mostra a substância adicionada, as quantidades o tempo de batimento da
clara em neve para cada teste realizado.
Tabela
1.
Adições realizadas, suas respectivas quantidades e o tempo de batimento.
* O sal e o açúcar foram adicionados aos 45s,
quando a espuma começou a se formar. Nos demais experimentos as substâncias
foram adicionadas antes do batimento.
As claras foram então tranferidas para tigelas
de vidro, onde permaneceram durante 30 minutos.
Avaliou-se o tempo de batimento das claras, as
características da espuma, a estabilidade e o resíduo de água após os 30
minutos.
Tempo
de batimento x substância adicionada
O tempo de batimento determinou a ordem de classificação das adições:
Sal durante < sem adição, óleo, açúcar, água
e ácido < sal < ácido tartárico < água
A Figura
1 mostra os diferentes aspectos e volumes obtidos nos experimentos.
Figura
1.
Aparência das claras batidas em neve, de acordo com o que lhe foi adicionado.
Nota-se diferença no aspecto de cada clara, de
acordo com o que lhe foi adicionado.
A Figura 2
mostra a clara batida sem adição e com adição de açúcar.
Figura
2.
Aparência da clara sem adição e com adição de açúcar aos 45s de batimento.
Pode-se observar que a
presença do açúcar confere maior brilho, maior estabilidade da espuma e bolhas
menores devido à interferência das moléculas de açúcar na ligação das proteínas
com a água – as moléculas de açúcar se ligam às de água tornando o líquido
viscoso e estabilizando o sistema.
A Figura 3
mostra a clara batida sem adição e com adição de ácido.
Figura
3.
Aparência da clara sem adição e com adição de ácido.
A adição de ácido aumenta a estabilidade da
clara e necessita maior tempo de batimento. Entretanto, confere à clara uma
característica quebradiça, frágil, por agilizar a coagulação das proteínas ao
redor das bolhas.
A Figura 4
mostra a clara batida sem adição e com adição de óleo.
Figura
4.
Aparência da clara sem adição e com adição de óleo.
O óleo impede a formação da espuma, porque as
ligações químicas entre entre moléculas de proteína e de gorduras têm diferente
natureza das estabelecidas entre as proteínas para a formação da rede proteica
que sustenta a espuma.
A Figura 5
mostra a clara batida sem adição, com adição de água e com adição de água e
ácido.
A água aumenta o volume mas necessita de maior
tempo de batimento, além da espuma apresentar estabilidade muito baixa. Isso
ocorre devido à diluição das proteínas da clara (ocasionada pela adição da
água) e o consequente afastamento das moléculas, que dificulta a formação e a
estabilidade da espuma.
A presença de água e ácido aumenta ainda mais o
volume, mas a estabilidade continua baixa.
A Figura 6
mostra a clara batida sem adição, a que teve adição de sal no início do
batimento e a que teve adição de sal durante o batimento (aos 45s).
Figura
6.
Aparência da clara sem adição, com adição de sal no início do batimento e com
adição de sal durante o batimento.
O sal adicionado no início do batimento aumenta
a formação de espuma, mas diminui sua estabilidade porque seus cristais se
dissolvem e competem por sítios de ligação entre as moléculas de proteínas,
dificultando as ligações necessárias para a formação da espuma. O sal
adicionado durante o batimento aumenta a estabilidade da espuma, uma vez que
ajuda no aprisionamento de água na estrutura.
A Tabela
2 mostra os efeitos de cada adição sobre as claras, a estabilidade e o
líquido desprendido após o batimento.
O líquido desprendido após o batimento avalia a
estabilidade da clara, que dependerá também de outros fatores como tempo
deixado em descanso após o batimento e manuseio das claras, além das diferentes
substâncias adicionadas no início ou durante o batimento.
As claras batidas somente com água podem ser
vantajosas se utilizadas em preparações onde não haverá mistura com muitos
ingredientes, para não ocorrer perda do volume. Acrescentando ingrediente ácido
é possível aumentar um pouco a estabilidade da espuma.
Já para as preparações nas quais as claras serão
misturadas a outros ingredientes há a necessidade da estabilidade ser maior e a
adição do sal e do ácido tartárico é bem vinda.
Bibliografia:
Araújo, W. M. C.; Montebello, N. P.; Botelho, R.
B. A.; Borgo, L. A. Alquimia dos alimentos – 2ª edição. Editora SENAC – 2011.
Brasília – DF.
Domene, S. M. A. Técnica Dietética – Teoria e
aplicações. Guanabara Koogan – 2011. Rio de Janeiro – RJ.