Os carboidratos são, sabidamente, os
macronutrientes mais consumidos na dieta habitual da população em geral Estes,
para serem absorvidos necessitam sofrer hidrólise por meio de enzimas presentes
no intestino do indivíduo, que no caso do leite é a lactase (β-glicosidase),
para então ser absorvido na forma de glicose e galactose, como pode ser
observado no esquema abaixo. (1,5)
Fonte: O Autor. A partir de dados obtidos
de Carvalho, SD; Penna, FJ (2003).
A intolerância ao leite costuma
ocorrer pelo fato de o indivíduo apresentar produção reduzida, ou não
apresentar a produção de lactase em seu organismo, que como dito
anteriormente é a enzima responsável pela hidrólise do carboidrato do leite.
(1,3,5)
A produção
reduzida de lactase, ou mesmo nula apresenta grande impacto entre os indivíduos
que se descobrem intolerantes, uma vez que, como mencionado em postagens
anteriores, trata-se de um alimento extremamente difundido na cultura alimentar
da população brasileira, principalmente caso o indivíduo não receba o suporte
necessário para entender o que é a intolerância à lactose, e quais modificações
são necessárias para que o mesmo viva normalmente.
Ela pode
ser classificada como deficiência congênita da lactase, hipolactasia tipo adulto, deficiência de lactase secundária (ou
adquirida), e deficiência de lactase de desenvolvimento.
●
DEFICIÊNCIA
CONGÊNITA DE LACTASE
A deficiência congênita da lactase
costuma ser observada desde o nascimento do indivíduo, apresentando sinais
como, diarreia grave e desnutrição progressiva, que melhoram ao retirar o
componente que contém lactose da dieta. (1,5)
●
HIPOLACTASIA TIPO
ADULTO
Já
a hipolactasia
tipo adulto, ocorre devido ao declínio da atividade da lactase a níveis
de 5 a 10% dos níveis encontrados no período de lactação, e por consequência há
um acumulo de lactado, principalmente no cólon. Esta corresponde a grande parte
dos casos de intolerância à lactose existente, e que ocorre pela redução da
produção da lactase com o avançar da idade. (1,5)
●
DEFICIÊNCIA DE
LACTASE SECUNDÁRIA (ADQUIRIDA)
Há ainda
a Deficiência de Lactase Secundária, ou
adquirida, que é induzida pela ocorrência de injúria do intestino delgado,
que pode ocorrer devido a quadros agudos de gastroenterite, quimioterapia ou
mesmo infecções causadas por micróbios intestinais. (5)
●
DEFICIÊNCIA DE
LACTASE DE DESENVOLVIMENTO
Por fim
há a Deficiência de lactase de
desenvolvimento, que ocorre em recém nascidos que nascem antes que a enzima
tenha alcançado desenvolvimento ótimo. Isto ocorre pelo fato de cerca de 30% da
lactase esta formada entre a 26-34 semana de gestação, quantidade que é elevada
a cerca de 70% entre a 35-38 semana. (5)
FISIOPATOLOGIA DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
Independentemente
da classificação, a lactose presente em excesso no cólon é metabolizada pela
microbiota local, gerando ácidos graxos de cadeia curta e gases. (1,5)
Os ácidos
graxos de cadeia curta, dentre os quais se destaca o lactato, quando presente
na luz intestinal propicia a elevação da força osmótica na região, além irritar
a parede do cólon devido à presença de radicais livres, levando à diarreia e ao
aumento do volume fecal. (1,5)
Já os
gases são absorvidos pelo intestino e parte é liberada pelos pulmões, formando
o flato. A presença exacerbada de gases é responsável pela distensão abdominal
e flatulência, sinais típicos da Intolerância à lactose. (1)
Fonte: O Autor. A partir de dados obtidos
de Carvalho, SD; Penna, FJ (2003).
TRATAMENTO
O tratamento para a intolerância à
lactose consiste na restrição de alimentos que apresentam lactose em sua
composição (como pode ser observado nas tabelas apresentadas abaixo), de acordo
com a tolerância apresentada pelo indivíduo ao carboidrato, sendo de grande
valia seu acompanhamento com profissionais qualificados sobre o assunto. (1,4)
Fonte: Adaptado de
Mendonça, RB, et al. (2015).
Fonte: Adaptado de
Mendonça, RB. et al. (2015).
Vale ressaltar que há indivíduos que
apresentam boa tolerância a produtos com menor teor de lactose, como iogurte,
queijo duro, devido à fermentação da lactose durante processamento, ou ainda
pelo uso de leite com reduzido teor de lactose. Além disso, há pesquisadores
que acreditam que indivíduos que apresentam redução na produção de lactose ao
longo da vida podem, de maneira controlada, ingerir alimentos que contenham
lactose, pois essa ingestão poderia levar à adaptação da colônia bacteriana,
reduzindo os sintomas da intolerância, ou mesmo alterar a microbiota a longo
prazo. Todavia, há a necessidade de mais estudos para afirmar tal
possibilidade. Além disso, tal estratégia não seria recomendada para idosos,
devido à possibilidade de ocorrência de efeitos adversos durante o processo.(4)
Desta
forma, a intolerância à lactose corresponde a um tema complexo, que deve ser
observado com cautela, por profissional
devidamente capacitado, sempre que o indivíduo suspeite apresentá-la, visto
que os sintomas prejudicam a qualidade de vida dos mesmo, e podem levar a
complicações secundárias, como desnutrição e desidratação devido à elevada
ocorrência de diarreia.
Rerefências:
1.Carvalho, SD; Penna, FJ. Intolerância Alimentar. In: Neto,
FT. Nutrição Clínica. 1°Edição.
Editora Guanabara Koogan; 2003. p. 212-215.
2.Mendonça, RB;
Kotchetkoff, E; Pinto-E-Silva, MEM; Yonamine, GH. Dietas Isentas de Leite e
Derivados. In: Silva, MEMP; Yonamine, GH. Atz MCBCV. Técnica
dietética aplicada à dietoterapia. 1° Edição. Editora Manole. 2015. p.19-21.
3. Sharma, HP; Bansil,
S; Uygungil, B. Signs and Symptoms of
Food Allergy and Food-Induced Anaphylaxis. Pediatr Clin N Am 62 (2015)
1377–1392
4.Szilagyi, A. Review- Adaptation to Lactose in Lactase Non Persistent People: Effects on
Intolerance and the Relationship between Dairy Food
5. Consumption and
Evalution of Diseases. Nutrients 2015, 7,
6751-6779; doi:10.3390/nu7085309Review
6.Amiri, M; Diekmann,
L; Köckritz-Blickwede, MV; Naim, HY. Review - The Diverse Forms of Lactose Intolerance and the Putative
Linkage to Several Cancers. Nutrients 2015, 7, 7209-7230;
doi:10.3390/nu7095332