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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ENTENDENDO A INTOLERÂNCIA À LACTOSE


        Os carboidratos são, sabidamente, os macronutrientes mais consumidos na dieta habitual da população em geral Estes, para serem absorvidos necessitam sofrer hidrólise por meio de enzimas presentes no intestino do indivíduo, que no caso do leite é a lactase (β-glicosidase), para então ser absorvido na forma de glicose e galactose, como pode ser observado no esquema abaixo. (1,5)


Fonte: O Autor. A partir de dados obtidos de  Carvalho, SD; Penna, FJ (2003).

            A intolerância ao leite costuma ocorrer pelo fato de o indivíduo apresentar produção reduzida, ou não apresentar a produção de lactase em seu organismo, que como dito anteriormente é a enzima responsável pela hidrólise do carboidrato do leite. (1,3,5)

A produção reduzida de lactase, ou mesmo nula apresenta grande impacto entre os indivíduos que se descobrem intolerantes, uma vez que, como mencionado em postagens anteriores, trata-se de um alimento extremamente difundido na cultura alimentar da população brasileira, principalmente caso o indivíduo não receba o suporte necessário para entender o que é a intolerância à lactose, e quais modificações são necessárias para que o mesmo viva normalmente.
Ela pode ser classificada como deficiência congênita da lactase, hipolactasia tipo adulto, deficiência de lactase secundária (ou adquirida), e deficiência de lactase de desenvolvimento.

     DEFICIÊNCIA CONGÊNITA DE LACTASE
            A deficiência congênita da lactase costuma ser observada desde o nascimento do indivíduo, apresentando sinais como, diarreia grave e desnutrição progressiva, que melhoram ao retirar o componente que contém lactose da dieta. (1,5)

     HIPOLACTASIA TIPO ADULTO
            Já a hipolactasia tipo adulto, ocorre devido ao declínio da atividade da lactase a níveis de 5 a 10% dos níveis encontrados no período de lactação, e por consequência há um acumulo de lactado, principalmente no cólon. Esta corresponde a grande parte dos casos de intolerância à lactose existente, e que ocorre pela redução da produção da lactase com o avançar da idade. (1,5)

     DEFICIÊNCIA DE LACTASE SECUNDÁRIA (ADQUIRIDA)
Há ainda a Deficiência de Lactase Secundária, ou adquirida, que é induzida pela ocorrência de injúria do intestino delgado, que pode ocorrer devido a quadros agudos de gastroenterite, quimioterapia ou mesmo infecções causadas por micróbios intestinais. (5)

     DEFICIÊNCIA DE LACTASE DE DESENVOLVIMENTO
Por fim há a Deficiência de lactase de desenvolvimento, que ocorre em recém nascidos que nascem antes que a enzima tenha alcançado desenvolvimento ótimo. Isto ocorre pelo fato de cerca de 30% da lactase esta formada entre a 26-34 semana de gestação, quantidade que é elevada a cerca de 70% entre a 35-38 semana. (5)

FISIOPATOLOGIA DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
Independentemente da classificação, a lactose presente em excesso no cólon é metabolizada pela microbiota local, gerando ácidos graxos de cadeia curta e gases. (1,5)
Os ácidos graxos de cadeia curta, dentre os quais se destaca o lactato, quando presente na luz intestinal propicia a elevação da força osmótica na região, além irritar a parede do cólon devido à presença de radicais livres, levando à diarreia e ao aumento do volume fecal. (1,5)

Já os gases são absorvidos pelo intestino e parte é liberada pelos pulmões, formando o flato. A presença exacerbada de gases é responsável pela distensão abdominal e flatulência, sinais típicos da Intolerância à lactose. (1)

Fonte: O Autor. A partir de dados obtidos de  Carvalho, SD; Penna, FJ (2003).

TRATAMENTO
            O tratamento para a intolerância à lactose consiste na restrição de alimentos que apresentam lactose em sua composição (como pode ser observado nas tabelas apresentadas abaixo), de acordo com a tolerância apresentada pelo indivíduo ao carboidrato, sendo de grande valia seu acompanhamento com profissionais qualificados sobre o assunto. (1,4)

Fonte: Adaptado de Mendonça, RB, et al. (2015).

Fonte: Adaptado de Mendonça, RB. et al. (2015).

            Vale ressaltar que há indivíduos que apresentam boa tolerância a produtos com menor teor de lactose, como iogurte, queijo duro, devido à fermentação da lactose durante processamento, ou ainda pelo uso de leite com reduzido teor de lactose. Além disso, há pesquisadores que acreditam que indivíduos que apresentam redução na produção de lactose ao longo da vida podem, de maneira controlada, ingerir alimentos que contenham lactose, pois essa ingestão poderia levar à adaptação da colônia bacteriana, reduzindo os sintomas da intolerância, ou mesmo alterar a microbiota a longo prazo. Todavia, há a necessidade de mais estudos para afirmar tal possibilidade. Além disso, tal estratégia não seria recomendada para idosos, devido à possibilidade de ocorrência de efeitos adversos durante o processo.(4)

Desta forma, a intolerância à lactose corresponde a um tema complexo, que deve ser observado com cautela, por profissional devidamente capacitado, sempre que o indivíduo suspeite apresentá-la, visto que os sintomas prejudicam a qualidade de vida dos mesmo, e podem levar a complicações secundárias, como desnutrição e desidratação devido à elevada ocorrência de diarreia.

Rerefências:
1.Carvalho, SD; Penna, FJ. Intolerância Alimentar. In: Neto, FT. Nutrição Clínica. 1°Edição. Editora Guanabara Koogan; 2003. p. 212-215.
2.Mendonça, RB; Kotchetkoff, E; Pinto-E-Silva, MEM; Yonamine, GH. Dietas Isentas de Leite e Derivados. In: Silva, MEMP; Yonamine, GH. Atz MCBCV. Técnica dietética aplicada à dietoterapia. 1° Edição. Editora Manole. 2015. p.19-21.
3. Sharma, HP; Bansil, S; Uygungil, B. Signs and Symptoms of Food Allergy and Food-Induced Anaphylaxis. Pediatr Clin N Am 62 (2015) 1377–1392
4.Szilagyi, A. Review- Adaptation to Lactose in Lactase Non Persistent People: Effects on Intolerance and the Relationship between Dairy Food
5. Consumption and Evalution of Diseases. Nutrients 2015, 7, 6751-6779; doi:10.3390/nu7085309Review

6.Amiri, M; Diekmann, L;  Köckritz-Blickwede, MV;  Naim, HY. Review - The Diverse Forms of Lactose Intolerance and the Putative Linkage to Several Cancers. Nutrients 2015, 7, 7209-7230; doi:10.3390/nu7095332

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